Por Fabiano Guieiro
O período de isolamento social, adotado como medida para conter a propagação do coronavírus, que causa a síndrome respiratória Covid-19, tem impactado diretamente na rotina de vários setores da sociedade. E, para os atletas, os efeitos da quarentena podem ser ainda mais acentuados já que interferem diretamente no acesso a estrutura disponível para os treinos e na manutenção do condicionamento físico e mental.
O supervisor do Taekwondo do Centro de Treinamento Esportivo (CTE) da UFMG, Cristiano Arruda, relatou como o isolamento tem afetado os atletas.
“A primeira coisa visível é a redução da carga de treino. Nós temos passado treino para eles, mas não dá para treinar com a mesma intensidade quando você está sozinho, quando você não tem o material adequado. A segunda, é que eles ficam um pouco ansiosos. Os atletas têm relatado ansiedade, preocupação sobre como vai ser”, explicou.
Outro desafio tem sido a manutenção do peso dos atletas durante esse período. “De repente, o gasto calórico cai muito e a alimentação não diminui tanto, às vezes até aumenta. Para nós que somos de uma modalidade de luta e trabalha com peso, é um grande problema”, disse o supervisor.
Para minimizar esse problema, o CTE mantém suas atividades multidisciplinares, ainda que feitas em casa, tanto por parte dos atletas, quanto de seus supervisores/treinadores. As atividades físicas são propostas de forma adaptada aos recursos que esses atletas têm à disposição.
“Três vezes por semana eu mando treino físico para eles e, também três vezes por semana, eles têm treino técnico-tático online”, conta Arruda. “O treino físico eles fazem sozinhos. Eu prescrevo o treino, detalho bem os exercícios, as cargas, e depois eles respondem o formulário com o que eles fizeram e como foi. No treino técnico-tático, com o treinador Marcelo Gonçalves, eles colocam o celular numa posição na qual o treinador consiga vê-los e vão conversando, corrigindo, e fazem um treino de uma hora e meia”, detalha.
Uma situação semelhante é vivida pela equipe de Judô do Centro. “O isolamento afeta frontalmente o planejamento e execução dos treinamentos. Mas é uma decisão pela vida, não há o que questionar quanto a isso”, afirmou o supervisor da equipe de Judô do CTE, André Fernandes.
Segundo o coordenador, o acompanhamento deve abranger diversos aspectos. “As principais orientações giram em torno da manutenção da rotina, horário, execução do plano de treino que foi passado para eles, além do equilíbrio emocional”, explica.
Os treinos e acompanhamentos também são feitos de maneira remota. “Os atletas devem realizar a atividade até o horário estipulado e reportar tanto o PSR (percepção subjetiva de recuperação) anterior ao treino e o PSE (percepção subjetiva de esforço), após o treino. Os treinos são enviados a todos por meio de um aplicativo de mensagens aos domingos”, detalha Fernandes.
E os relatos são de que não tem sido fácil manter-se ativo com recursos reduzidos. “Os retornos mais frequentes são a respeito da dificuldade de manter a rotina de treinamento e, principalmente, de sono”, completou o supervisor.
Os treinos do CTE estão suspensos por tempo indeterminado enquanto a instituição aguarda novos comandos das autoridades responsáveis. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), as medidas de isolamento social, como a quarentena, são a melhor maneira de conter a pandemia.
O Centro de Treinamento Esportivo (CTE) da UFMG tem o apoio da Secretaria Especial de Esporte do Ministério da Cidadania, que financia os projetos Formação de Recursos Humanos e Desenvolvimento de Pesquisa Aplicados ao Esporte de Alto Rendimento e Esporte Paralímpico de Alto Rendimento: Formação de Atletas, de Recursos Humanos e Desenvolvimento de Pesquisa. Os projetos desenvolvem ações em modalidades olímpicas e paralímpicas, atuando desde a iniciação esportiva até o alto rendimento, na cidade de Belo Horizonte e sua região metropolitana.