Por Bruno Freire
Durante as férias, é comum que as pessoas prestem menos atenção na alimentação. Os atletas não são uma exceção, nesse período sem treinos e competições, muitos esportistas acabam ganhando peso e perdendo massa magra. Por conta disso, o Laboratório de Nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (LAN/UFMG) realizou um estudo para avaliar os efeitos do período de férias na dieta e composição corporal de atletas. Participaram da pesquisa 19 atletas profissionais de futebol receberam orientações nutricionais gerais para serem seguidas no período de descanso.
O artigo “Efeito de orientações nutricionais no perfil dietético e na composição corporal de jogadores de futebol profissional no período entre temporadas” constatou que não houve diferença estatisticamente significativa no perfil dietético médio do grupo. Mas os reflexos puderam ser vistos no corpo dos atletas, a média da massa corporal total aumentou significativamente, massa gorda e percentual de gordura, além da redução da massa magra média. Entre os atletas, 12 apresentaram aumento na ingestão de energia (nove apresentaram aumento na massa corporal total, enquanto três mantiveram esse valor constante). Os outros sete atletas apresentaram redução na ingestão de energia, sendo que um deles apresentou redução na massa corporal total, enquanto quatro mantiveram e dois aumentaram.
Por que isso aconteceu? A equipe do LAN explica no bate-papo a seguir.
CTE/UFMG: O termo “perfil dietético” foi utilizado muitas vezes no decorrer do texto. O que é o “perfil dietético” dos atletas?
LAN: O perfil dietético é a caracterização da alimentação de uma pessoa, de um atleta. Ele pode ser determinado pela quantidade de energia diária ingerida (kcal), junto à proporção e quantidade diária ingerida de macronutrientes, sendo estes os Carboidratos, as Proteínas e os Lipídeos;
CTE/UFMG: Qual o principal resultado observado no estudo?
LAN: O principal resultado observado foi que o perfil dietético médio dos atletas não sofreu alterações significativas no período de férias. Entretanto, a composição corporal média sofreu alterações significativas, evidenciada, especialmente, pelo aumento da massa gorda. Ainda, ao analisar individualmente o perfil dietético dos atletas, encontramos que as orientações nutricionais foram eficazes para a manutenção do perfil dietético e composição corporal de alguns atletas, mas de outros, não. Isto refletiu nos resultados encontrados na média do grupo.
CTE/UFMG: Qual a relevância do estudo e como os resultados podem alterar a forma que os atletas se alimentam durante as férias?
LAN: O estudo é de alta aplicabilidade na prática esportiva, uma vez que as decisões acerca do período de férias do atleta podem refletir na performance subsequente ao retorno das atividades esportivas na temporada seguinte. Cabe à comissão técnica, incluindo o(a) nutricionista, definir quais as vantagens e desvantagens (psicológicas, comportamentais e físicas) de se seguir um planejamento alimentar quantificado e rígido durante a transição entre as temporadas. Assim, determinando a estratégia mais adequada para cada atleta.
CTE/UFMG: Os atletas seguiram orientações de nutricionistas durante o período e, mesmo assim, houve aumento significativo de massa corporal, inclusive massa gorda. O que pode ter levado a essa alteração?
LAN: A orientação nutricional é uma ferramenta qualitativa. Dessa forma, direciona o indivíduo quanto ao fracionamento das refeições ao longo do dia e ingestão equilibrada de grupos alimentares. Nesta pesquisa, os atletas receberam orientações gerais, priorizando o consumo de alimentos “in natura” e minimamente processados, evitando o consumo de produtos industrializados e ultraprocessados. Entretanto, as orientações nutricionais não direcionam ao consumo energético quantificado, sendo uma limitação da ferramenta. Dessa forma, a redução do gasto energético pela ausência de treinos e jogos, associado a possível maior consumo de calorias, podem ter levado os atletas ao aumento da massa corporal total e do percentual de gordura.
CTE/UFMG: A pesquisa foi realizada com auxílio de jogadores de futebol, os resultados também poderiam ser aplicados para atletas de outras modalidades?
LAN: Em sua totalidade, não. Toda modalidade esportiva possui especificidades que devem ser consideradas durante o período de férias, como a realização de treinos complementares ou atividades lúdicas, seja para manter o gasto energético mais elevado ou evitar o destreinamento neste período. Também, deve ser levado em consideração a individualidade do atleta, independente da modalidade esportiva. Enfim, reforçamos que o trabalho multidisciplinar deve ser contínuo, para que aspectos comportamentais, físicos, nutricionais e psicológicos do atleta sejam monitorados e a melhor estratégia seja adotada.
Crédito das respostas: Paula Simonini (nutricionista, mestranda em ciências do esporte, membro do LAN) e Prof. Dr. Marcos Drummond – Zang (nutricionista, profissional de educação física, professor da EEFFTO, coordenador do LAN e nutricionista do CTE).
O Centro de Treinamento Esportivo (CTE) da UFMG tem o apoio da Secretaria Especial de Esporte do Ministério da Cidadania, que financia os projetos Formação de Recursos Humanos e Desenvolvimento de Pesquisa Aplicados ao Esporte de Alto Rendimento e Esporte Paralímpico de Alto Rendimento: Formação de Atletas, de Recursos Humanos e Desenvolvimento de Pesquisa. Os projetos desenvolvem ações em modalidades olímpicas e paralímpicas, atuando desde a iniciação esportiva até o alto rendimento, na cidade de Belo Horizonte e sua região metropolitana.