Por Bruno Pereira*
O Programa Mediantar, criado em 2013, é vinculado ao Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, conta com a colaboração de pesquisadores de diversas universidades brasileiras e é voltado para Medicina de Extremos, com ênfase em Antropologia, Saúde Mental, Estresse Fisiológico e Aclimatação ao ambiente frio extremo. Esse projeto compõe o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), produz pesquisas classificadas como Biologia Humana e Medicina Polar, e é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Uma pesquisa em fase final desenvolvida pelo mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Esporte (PPGCE), Lucas Siqueira Moraes, sob orientação do professor Dr. Dawit Albieiro Pinheiro Gonçalves, coordenador de fisiologia esportiva do Centro de Treinamento Esportivo (CTE-UFMG). Ambos vinculados à Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO).
O trabalho tem por objetivo entender se o treinamento físico com peso e esteira pode amenizar alterações em parâmetros cardiovasculares, metabólicos, hormonais e outros relacionados com estresse e fadiga em militares que dão apoio aos pesquisadores do PROANTAR.
Em janeiro de 2023, os pesquisadores da EEFFTO foram à Antártica para reavaliar os militares da Marinha do navio polar Almirante Maximiano. O professor Dr. Dawit destaca a importância do carácter multidisciplinar do programa Mediantar, além da contribuição dos profissionais da Educação Física na pesquisa.
“Essas várias disciplinas que compõem o nosso projeto Mediantar, que é um projeto da área de saúde, dão um olhar para esses indivíduos que estão aqui para aspectos biológicos deles. No caso, a gente tem um foco forte na fisiologia. Nós aqui da Educação física tentamos dar um apoio nesse sentido, respostas fisiológicas, tanto em repouso quanto esforço, para entender como os diferentes sistemas biológicos do organismo desses indivíduos estão respondendo a esse estresse. Não só do estresse ambiental do frio, mas também, dependendo do ambiente em que estão também de confinamento, de isolamento”, explicou.
Dawit Albieiro apontou ainda que, em razão das pesquisas ocorrerem durante o verão antártico, entre outubro e março, o excesso de incidência de luz interfere nos parâmetros estudados. O profissional ressalta ainda a importância de uma equipe multidisciplinar para a análise desses dados.
“E isso a gente já sabe também, que essa incidência de luz constante afeta respostas hormonais nos indivíduos, consequentemente altera o metabolismo, consequentemente altera também a resposta do coração, do sistema cardiovascular, impacta no sono e causa uma série de efeitos. E aí, esses diferentes profissionais têm um papel importante para entender como estão acontecendo todas essas respostas. Então a gente tenta ter um olhar integrado, mas, claro, com diferentes estudos”, afirmou.
Os pesquisadores da EEFFTO retornaram ao Brasil no dia 18 de fevereiro, após um mês na Antártica.
Histórico da pesquisa
Em Outubro de 2022, o professor Dr. Thiago Teixeira Mendes, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), atual subcoordenador do Mediantar, e seu aluno de mestrado, foram ao navio polar Almirante Maximiano, ainda no Rio de Janeiro, em direção à Antártica. Nessa etapa, separaram os militares em dois grupos, um comprometido a manter uma rotina de atividades físicas e outro não.
A partir da divisão estabelecida, os pesquisadores começaram a fazer testes no grupo que se dispôs a contribuir com o estudo, e avaliaram aspectos relacionados a humor, estresse, bem-estar, questão de resposta cardiovascular, medindo a variabilidade da frequência cardíaca, aspectos hemodinâmicos, como a pressão arterial, resposta de metabolismo pela glicose no sangue, e coletando saliva em diferentes momentos do dia. O objetivo era avaliar a variação de hormônios tanto na saliva como no sangue desses indivíduos, para ver como estavam essas alterações de hormônios, que são importantes para o metabolismo e que impactam no corpo desses indivíduos, de uma forma geral, como eles estão variando ao longo do dia em resposta desse confinamento dentro do navio.
Depois das primeiras aferições, o grupo de militares que aderiu ao estudo, começou um treinamento aeróbico na esteira. Durante esse período, os militares foram reavaliados e o professor Thiago Teixeira Mendes, e seu mestrando, retornaram ao Brasil. Após dois meses do término do período de treinos, em janeiro de 2023, os pesquisadores da EEFFTO foram à Antártica para reavaliar os militares.
*Sob supervisão de Iago Proença.